O homem só poderia conhecer a sua lei, medir os seus limites, passando para o outro lado.
Artur Adamov
Sempre tive a certeza que a nossa liberdade termina exactamente onde começa a liberdade do próximo. Sempre tive esta leitura linear, sem grandes dúvidas. Por exemplo se estou num sítio público e quero ouvir a minha música, ponho headphones para não incomodar os outros.
Resumidamente eu posso fazer aquilo que eu quiser desde que tal não agrida os outros, não invada o seu espaço.
Mas e quando as acções são involuntárias, esse "direito" dos outros mantém-se?
Imaginemos o caso de uma pessoa, seja ela criança ou adulto, ter um problema em controlar a sua agitação motora. Deixa essa pessoa de ter direito a frequentar determinados locais, alguns de reflexão por exemplo, outros de diversão como um cinema, simplesmente porque a sua agitação motora incomoda os outros, que têm a expectativa de estar num local calmo?
Este post não é uma critica mas sim uma reflexão séria sobre quais os direitos de todos nós, sejamos nós quem tem estas características ou não.
Exemplo 1:
Imaginemos que estamos num cinema e a pessoa da frente não para de mexer com o telemóvel, enviando e recebendo mensagens, e toda aquela luz azulada invade o nosso campo visual distraindo-nos do filme. Isto é algo que me irrita profundamente pois penso que se quer fazer isso então não está a ver o filme e mais importante ainda, não está a deixar os outros ver o filme. Acredito tenho aqui todo o direito de pedir que pare com o telemóvel.
Agora imaginemos que à frente se encontra uma pessoa que não para quieta, que se mexe a todo o momento. O que fazer? Continuo a ter o direito de pedir que pare de se mexer?
Exemplo 2
É legítimo que se eu estiver num locar de reflexão, não queira sem distraído por alguém que esteja ao meu lado e não pare quieto um minuto, afinal procurei aquele preciso logar para reflectir e ter paz.
Mas agora pensemos que a tal pessoa, tem a agitação motora e não consegue de facto estar sem mexer mãos, braços ou pernas, ajustar a forma de me sentar, mas que também foi àquele mesmo local, para reflectir, para ter um momento de paz, dentro das suas limitações. Neste caso o meu direito mantém-se?
Vivemos numa sociedade onde alguma coisa que saia da norma seja motivo de julgamento apressado, de critica mesmo que essa seja feita apenas com um simples olhar e nestes momentos a maior parte das vezes nunca paramos para pensar se não devemos ser tolerantes e não julgar logo na primeira oportunidade.