02/07/2011

Ausência

Ausência...uma palavra tão pouco mencionada e ao mesmo tempo tão presente no nosso quotidiano.
Ausência daqueles que vamos perdendo simplesmente porque a vida não se compadece com a nossa fragilidade de perder os nossos pilares. E ainda por estes dias me passou pelos olhos uma frase de Eduardo Sá
"Nunca se prepara um adeus. Qualquer que seja. Imaginar um adeus não nos habilita a compreender a tontura de sermos apanhados de surpresa quando perdemos alguém. Preparar a despedida não nos ensina a dizer adeus mas, simplesmente, a prevenir todos os remorsos."
Sem dúvida verdadeira esta frase, com uma pessoa que me era próxima (a minha avó), um dos pilares da minha vida, aconteceu-me precisamente isto e nem os remorsos consegui evitar...achamos sempre que poderíamos, deveríamos ter feito mais... mas acabamos por aprender a viver com a perda.

Há também outros tipos de ausências...ausência do tempo em que éramos crianças e a vida estava de portas abertas para nós. Claro que com a idade umas se fecham mas outras se vão abrindo, mas algures fica a sensação de perda de haver algumas coisas que já não nos pertencem ( e não, não estou numa crise de identidade ou idade, a vida é mesmo assim :) )

Há ausências que nos são impostas e ausências que criamos, seja porque razão fôr. As que nos são impostas aprendemos a conviver com elas ( vamos ter um exemplo muito em breve com o nosso subsídio de natal e algumas outras regalias que eram assumidas e que irão desaparecer nos próximos tempos).
Outras acontecem por circunstâncias da vida e o Ser Humano, que tem uma capacidade fabulosa de adaptação, lá sobrevive, redefine os seus objectivos de vida, ergue a cabeça e segue em frente. O grande problema é que por vezes a vida nos passa umas rasteiras e o que já estava assumido como ausente aparece do nada, e aí a confusão fica lançada.
Nós, Seres Humanos, somos particularmente resistentes, no entanto nem sempre estamos preparados para as surpresas que a vida nos reserva, sejam elas boas ou más.

Parei agora e reli o que escrevi e até me rio ao pensar que poderá este texto ser interpretado como uma qualquer mensagem codificada...que não é de todo!!!
É apenas uma reflexão dos últimos tempos, meus e das pessoas que me são próximas.

Mas para chegar ao cerne da questão falo das ausências que tentamos assumir, com toda a sua perda inerente. Assumimos conscientemente determinada ausência, pois no prato da balança com tudo devidamente pesado o resultado é que a ausência é menos prejudicial que a presença. Os primeiros tempos custam sempre, há a dúvida das atitudes tomadas (quem nunca se afastou de um amigo que afinal não nos fazia tão bem quanto mal), há a saudade pelo hábito da presença, pela cumplicidade, pela partilha, etc etc. Mas ao fim de algum tempo conseguimos ultrapassar e seguimos em frente. O grande problema é que este processo normalmente se passa com pessoas que nos são importantes e por isso se de um momento para o outro a outra pessoa reaparece, a complicação é maior, surgem as dúvidas sobre as atitudes tomadas, vem a memória afectiva...todo o investimento feito, e a dificuldade acresce na hora de decidir que caminho seguir, retomar contacto ou afastar e seguir em frente. E principalmente vem a quase certeza de nova desilusão...que normalmente acontece, simplesmente porque as pessoas não mudam, a menos que lhes tenha acontecido na vida algum profundamente fracturante...de resto a essencial é a mesma ao longo da vida e quanto a isso não tenhamos ilusões...mas claro, como Seres Humanos que somos, temos sempre esperança na mudança para melhor.

Já tive os dois casos por isso sou a pessoa menos indicada para aconselhar...a não ser num pormenor....cada vez mais sigo o meu instinto...pois por norma acerta a 300%.E das vezes que não o segui...vim a perceber mais tarde que o deveria ter seguido! Mas claro, nas relações humanas a afectividade na maior parte das vezes não deixa que entre a racionalidade.

4 comentários:

Luís Galego disse...

Excelentes pistas para refectir com calma....foi um bom regresso ao mundo dos blogs.

Ka disse...

Luís,

Simpatia tua só pode :)

Mas engraçado que estou a precisar de escrever mais pois parecia que não conseguia escrever o que queria transmitir

ps- e eu totalmente adepta das novas tecnologias e do FB, continuo a achar que o blog tem sempre alguma coisa de diferente que não é substituível

paulofski disse...

Há as ausências reflectidas, ausências sentidas, as mais notadas e há as simples ausências que não são desistências, apenas outras incumbências que a vida nos faz seguir.

Beijinho nosso.

Ka disse...

Paulofski,

No essencial bem resumido, as usual :)

Beijinho para "vozes"