30/10/2019

Há almas com alma e sem alma

Todos temos percursos de vida distintos.

Cada caminho tem como alicerces a família base, ou a ausência dela os afectos que vamos recebendo ou não e enquanto a infância vai passando e dando lugar à juventude, os pilares da nossa personalidade vão-se formando. Mas só com a experiência de vida ganhamos uma nova perspectiva.
Não é por acaso que a juventude é vivida de uma forma apressada, queremos tudo o que a vida tem para nos oferecer e esperamos ansiosamente tomar as rédeas da nossa vida… Inocência esta a de nem sequer percebemos que, embora balizados pelas regras de quem nos educa, vamos tendo já na mão o nosso caminho nas pequenas acções da nossa curta existência.

Chegados à “idade adulta” (para muitos começa cedo demais infelizmente pois a infância é quase inexistente) temos agora por inteiro a responsabilidade das nossas acções e as respectivas consequências….as boas e as más. Cabe-nos interiorizar e com este processo vamos ganhando maturidade.

Tenho uma profunda admiração pelas pessoas que não tendo tido os mesmos alicerces que a maior parte de nós (afectos e família) conseguem “cortar” esse ciclo negativo, superar o que falhou e serem pessoas estruturadas, positivas, realistas, deixando de lado o azedume e o queixume, que seria aparentemente um caminho bem mais fácil.

Estas pessoas demonstram-nos que o que fazemos com o que vivenciamos, seja por acções nossas, pelo que nos fazem ou simplesmente pelo que presenciamos, é da nossa responsabilidade.

Para mim faz sentido andar neste mundo e tentar ser melhor pessoa, seguir os meus princípios, melhorá-los, fazer o que considero que está certo, por mais que isso muitas vezes me custe . Não sou pior nem melhor que ninguém…sou eu apenas no meu caminho, no qual também são muitas as vezes em que erro, mas nada como aprender com o erros e seguir em frente, até porque quando temos filhos temos a obrigação de ensinar pelo exemplo.
Claro que neste caminho vamos batendo com a cabeça, por vezes tomamos más decisões, somos egoístas, erramos, magoamos, somos magoados…faz parte da natureza humana e da vida. O segredo está na forma como vamos vivendo todo este processo internamente, a forma como o vivemos com os outros.

Não acredito pelo que testemunhei até agora que uma existência endógena, faça sentido ou traga qualquer ponta de felicidade. Uma existência onde um vive para si mesmo acaba por ser doentia, como um quarto que nunca é arejado e fica bafiento, cheio de fungos e doentio. Não conheci até hoje uma alma que fosse feliz ou se sentisse realizada com este tipo de existência, até porque normalmente quem vive assim fica azedo, invejoso do que os outros têm (não falo de bens materiais…falo de afectos, de vida, de amor)sem perceber que estando a porta fechada não sai nada para ninguém e tão pouco entra, a não ser por pessoas altruístas que sentem necessidade de ajudar.

Não acredito que as vivências passadas sirvam de justificação para actos presentes ou ausência deles . Obviamente que há casos e casos mas refiro o normal de relações entre as pessoas.

Somos sempre uma obra em crescimento e para mim não faz sentido a estagnação, o ressabiamento….são sentimento que corroem e corrompem a nossa alma e nada trazem de positivo. Só perante pessoas totalmente tóxicas é que o mais prudente é a distância. Conheço algumas mas mesmo aí apenas quero distância, não chego a desejar o mal.

Choca-me a existência de quem apregoa princípios do alto da sua sapiência, e na prática não os pratica, nos mais pequenos detalhes, dia após dia, ano após ano.

Choca-me a distorção da realidade em benefício próprio, ignorando por completo aqueles que estão próximos e também os que pedem ajuda. E não é fácil a ninguém pedir ajuda…requer humildade. Mas há sempre urgências, há sempre um bem supostamente superior mas os “pequeninos”, aqueles que estão próximos, e são anónimos socialmente são completamente ignorados.

Como se pode falar em caridade, em direitos humanos, em ética, em moral quando se ignora quem está “ao virar da esquina”…


O que adianta apregoar direitos humanos e não reconhecer os dos seus próximos?
Como estará a alma destas pessoas?
Pergunto-me se, tal como todos nós, terão aquele momento de introspecção quando deitamos a cabeça na almofada e estamos sozinhos com a nossa consciência e com Deus…


Mas depois temos aquelas pessoas que nos aparecem do nada e iluminam a nossa vida, com uma presença discreta sem megafones, mas sólidas, amigas e coerentes e a paz e alegria que estas pessoas transmitem é o que nos faz continuar o nosso caminho e aspirarmos um dia a ser como elas. São Almas com Alma.

Sem comentários: