[...]
«Como hei-de encontrar o caminho?», perguntava ela.
E levantou a cabeça.
Então viu que no céu, lentamente, uma estrela caminhava.
E começou a seguir a estrela.
Até que penetrou no pinhal. Então num instante as sombras fizeram uma roda à sua volta.
[...]
Já no meio do pinhal pareceu-lhe ouvir passos.
«Será um lobo?», pensou.
Parou para escutar. O barulho dos passos aproximava-se. Até que viu surgir entre os pinheiros um vulto muito alto que caminhava ao seu encontro.
«Será um ladrão?», pensou.
Mas o vulto parou à sua frente e ela viu que era um rei. Tinha na cabeça uma coroa de oiro e dos seus ombros caía um longo manto azul todo bordado de diamentes.
- Boa noite - disse Joana.
- bom noite - disse o rei -. Como te chamas?
- Eu, Joana - disse ela.
- Eu chamo-me Melchior - disse o rei.
E perguntou:
- Onde vais sozinha a esta hora?
- Vou com a estrela - disse ela.
- Também eu - disse o rei -, também eu vou com a estrela.
E juntos seguiram através do pinhal.
E de novo Joana ouviu passos. E um vulto surgiu entre as sombras da noite.
Tinha na cabeça uma coroa de brilhantes e dos seus ombros caía um grande manto vermelho coberto de muitas esmeraldas e safiras.
- Boa noite - disse ela -. Chamo-me Joana e vou com a estrela.
- Também eu - disse o rei -, também eu vou com a estrela e o meu nome é Gaspar.
E seguiram juntos através dos pinhais.
E mais uma vez Joana ouviu um barulho de passos e um terceiro vulto surgiu entre as sombras azuis e os pinheiros escuros.
Tinha na cabeça um turbante branco e dos seus ombros caía um longo manto verde bordado de pérolas. A sua cara era preta.
- Boa noite - disse ela. - O meu nome é Joana. E vamos com a estrela.
- Também eu - disse o rei - caminho com a estrela e o meu nome é Baltasar.
[...]
Até que chegaram ao lugar onde a estrela tinha parado e Joana viu um casebre. Mas não viu escuridão, nem sombra, nem tristeza. Pois o casebre estava cheio de claridade, porque o brilho dos anjos o iluminava.
E Joana viu o seu amigo Manuel. Estava deitado nas palhas entre a vaca e o burro e dormia sorrindo.
[...]
Sophia de Mello Breyner, in A Noite de Natal
19/12/2007
Excerto III de "A noite de natal"
Posted by Ka at 12/19/2007
Labels: A noite de Natal, contos, Sophia Mello Breyner Andersen
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7 comentários:
Gosto muito, muito da Sophia e reler excertos d´"A Noite de Natal" soube mesmo bem.
Um dia BOM, amiga.
:)
A Sophia sabia como ninguém criar a beleza com as palavras e transformar o Natal numa entidade encantadora ao correr das suas metáforas. Gostei.
Lindíssimas todas a palavras dela. Bebo-as . Sempre
um beijinho
Eduardo,
Ainda bem que também gostaste :)
Beijinho grande amigo ;)
Rui,
Realmente Sophia escrevia como ninguém, não é?
Beijinho
Gi,
Ela é um dos nossos pontos comuns...por isso nos damos bem!
Beijinho :)
nem imaginas conmo fico feliz por ler algo sobre o NAtal, assim profundo.Estou cansada das superficialidades...
bjs
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