26/03/2008

Dia do Livro Português II - Acordo ortográfico


Apesar de ter a perfeita noção que a maior parte das pessoas não lerá este post até ao fim, por este ser para muitos um assunto "chato", no dia em que se celebra mais um Dia do livro Português deixo aqui alguns pontos referentes ao famoso acordo ortográfico que o governo quer agora ratificar.

Problemas politico-jurídicos

Este acordo é um instrumento internacional e seria necessário que entrasse em vigor no plano internacional para depois poder entrar em vigor na ordem portuguesa. Ora este acordo só foi ratificado por 3 dos 8 países e não se pode violar o princípio da igualdade de direito entre Estados admitindo que a rectificação por 3 se aplica a todos. Isto já para não falar do Artº 78 da Constituição Portuguesa que fala na obrigação do Estado em promover a salvaguarda e a valorização do património cultural (ler aqui)


Problemas com as bases do acordo

1 - Diversidade de critérios - Umas vezes é invocada a história das palavras, outras vezes a etimologia, outras o desuso e outras ainda a pronúncia.

Um exemplo é o desaparecimento das chamadas consoantes mudas em palavras como acção que passaria a ação ou abrupto que passaria a abruto. Aqui haveria para a grafia de Portugal uma grande perda do testemunho etimológico uma vez que estas letras também contam a história das palavras.
Outro exemplo é a anulação de diferenças gráficas de grande importância semântica em palavras como intercectar e interceptar, com significados distintos mas que passariam a ser a mesma palavra escrita como intercetar.
Outro exemplo ainda seriam a homofonias em palavras como adopção - aducção, concepção - concessão, secção - sessão

2 - Facultatividades - A palavra será escrita consoante fôr pronunciada em cada região (sector - setor), o que abrirá a porta a todo o tipo de variantes alcançando portanto o resultado oposto ao objectivo do acordo que visa a normalização gráfica.

3 - Vogais átonas - estas são: i - e ; o - u. Neste caso o acordo remete para vocabulários ou gramáticas mas sem qualquer tipo de critério. Vejamos o exemplo da palavra criar que vem do latim creare. Nós escrevemos a palavra com "i" no entanto se consultarmos um diccionário do início do século XX veremos crear. Já num dicionário de meados do século virá criar. Então qual o critério para estabelecermos a regra?

Consequências

É espantoso que ninguém fala dos custos que este acordo acarretará. Qual o custo da mudança dos diccionários, livros escolares, enciclopedias, etc?
Como poderiam as editoras portuguesas, principalmente as pequenas, fazer frente a isto, uma vez que milhões de livros ficariam de imediato desactualizados?
Os manuais escolares por exemplo não poderiam ser reutilizados, logo agora que foi aprovada a sua manutenção por períodos de 6 anos.
Há milhões de livros a serem usados pelas crianças neste momento e todos eles teriam de ser reconvertidos, já viram a loucura disto???


Ainda ninguém me disse um só benefício que Portugal possa ter com este acordo ortográfico!


Este post foi feito com base numa entrevista ao Vasco Graça Moura na RTP2 e que podem ouvir na íntegra aqui uma vez que só referi os pontos principais para que melhor se possa entender o que está em causa. Pena que este país não valorize mais a opinião de quem sabe...

21 comentários:

paulofski disse...

Não entendo a necessidade desde "acordo". A língua portuguesa, tal com outras línguas de grande expressão, evoluem e continuarão a evoluir com a naturalidade devida à adaptação das circunstâncias. Os critérios adoptados para este acordo é que não são os correctos pois baseiam-se na premissa de aproximar o português/português ao português/brasileiro. No meu ponto de vista a língua mãe deveria sempre ser preservada e os PALOP's convergirem a sua ortografia nessa direcção. A questão dos custos dessa mudança é bastante pertinente e de facto ninguém ainda falou sobre isso.

Magnífico post Ka. Muito bem.

Rafeiro Perfumado disse...

Gostei ainda mais da entrevista que o António Vitorino deu na passada segunda, onde dá como exemplos línguas maiores que a nossa (inglês e castelhano) que não sentem qualquer necessidade em fazer acordos ortográficos exactamente porque percebem que parte da riqueza da língua reside nas suas múltiplas nuances.

Mas mesmo que venha a ser ratificado por Portugal, garanto que a mim ninguém me apanhará a escrever no "novo português".

Beijo!

KNOPPIX disse...

Querida Ka eu NUNCA serei capaz de escrever de acordo com este novo acordo ortográfico, que é uma verdadeira aberração e representa a vitória do mau sobre o bom português, é inconcebível que pessoas ditas de bom senso tenham pactuado com esta despromoção da língua portuguesa.

Eu não vejo com bons olhos este Acordo, ele não augura nada de bom para Portugal, não significa mais do que o encolher de ombros e o baixar de braços à pureza da nossa língua e deixar que a mesma se adultere com alterações sintáxicas que não são mais do que um retrocesso, não um avanço cultural de quem as defende.

Beijinhos e parabéns pelo tema, a sua relevância merecia um maior interesse das pessoas, pela importância que o mesmo reveste.

BlueVelvet disse...

Querida Ka,
há cada coincidência: acabei de postar o link para assinar a petição contra o acordo.
E li até ao fim, sim.
Claro que li.
Obrigada por seres uma das poucas a juntar a tua à minha voz.
Beijinhos e veludinhos

Outonodesconhecido disse...

Com outro estado de espírito responder-te-ia, mas assim com as trevas a invadirem-mea até á medula, desejo-te apenas uma noite feliz.

Ka disse...

Paulo,

De facto o único ponto que parece óbvio é mesmo o favor que faremos ao povo brasileiro pois de resto é tudo uma grande confusão como se pode ver pelo que aqui disse.

Beijo e um bom dia :)

Ka disse...

Rafa,

Não vi essa :( mas olha que o Vasco Graça Moura também dá precisamente esse exemplo.

Só mesmo nós portugueses para nos vendermos desta forma...ainda por cima sem qualquer contrapartida!!!

Beijoca

Ka disse...

Knoppix,

Eu bem dizia que não haveria muita gente a ler ou a comentar este post pois é um assunto "chato" e as pessoas não querem saber.

Olha a mim também ninguém me apanhará a escrever asssim !

Beijocas e um dia de sol para te acompanahr :)

Ka disse...

Blue,

Não agradeças! Penso que é mesmo uma questão de obrigação moral, enquanto cidadã portuguesa e defensora da nossa cultura.

Beijinhos

Ka disse...

Luis,

Cedência sem dúvida nenhuma!

Beijinho

Ka disse...

Querida Outono,

isso é que é pior! Espero que hoje estejas melhor.

Já vou a caminho do teu canto :)

Beijinho

Olá!! disse...

Pois é Ka, esse acordo parecendo que não já faz correr rios de tinta e os custos não estão a ser contabilizados...
Completamente contra, com ou sem erros, vou continuar a escrever como aprendi...
Se o acordo for para a frente, espero que tenham a inteligência de começar a ensinar as crianças do 1º ciclo e não as do 2º ou 3º... muito menos a nós que já não andamos na escola...
Maldita gente que não tem mais nada em que pensar...
Beijosssssssssssss

Pitanga Doce disse...

Ka, eu, como brasileira, acho este acordo ridículo e desnecessário. Já tive meu filho a estudar aí por duas vezes. No sexto ano e mais tarde na Universidade em Coimbra. Nunca houve problemas com a escrita ou com a fala. Estes "intelectuais de gabinete", tanto daí como daqui é que inventam histórias absurdas. Aqui já quiseram mudar a letra do Hino Nacional e depois acharam de ensinar Esperanto nas escolas, depois queriam que o espanhol fizesse parte do currículo escolar. Felizmente nada disso foi avante.
É uma falta do quê fazer!!!!

beijos

MariaTuché disse...

Eu li o post todo e só posso dizer que estou inteiramente de acordo contigo, posso até dizer que acho uma autêntica palhaçada esta história do ACORDO, eu nunca deixarei de escrever tal e qual aprendi na escola, acho um absurdo tudo isto já para não falar nos custos como tu bem referes, ou será que vão fazer algum tipo de campanha do género:

Traga o seu Diccionário velhinho e leve 1 Dicionário novo totalmente grátis!!

Era bom não era???

Excelente post.

KNOPPIX disse...

Vou marcar falta!!!!!

Ontem a menina Ka fez "gazeta" al Blog? (risos)

Beijinhos, vim aqui para te desejar uma boa 6ª feira e dizer-te que te trouxe um torrão para ires trincando durante o dia , daqueles almendrados deliciosos ;)

E claro, um bouquet de lindas rosas para ti, guapa ;)

Ka disse...

Olá,

Nada é contabilizado a não ser uma teimosia parva em perdermos a nossa identidade

Beijossss e um excelente dia!

Ka disse...

Pitanga,

Nme imaginas como é gratificante ler a tua opinião pois de facto é mesmo isso que se passa. O acordo não é de todo essencial até porque temos autores brasileiros que fazem questão de manter o português brasileiro nos livros cá em Portugal como temos escritores portugueses a editar no brasil mas que fazem questão de manter o portguguês original.

Beijinho e bom fim-de-semana :)

Ka disse...

Mariatuché,

Bons olhos te leiam por aqui :))
Seremos uma data de resistentes pois não conheço até à data ninguém que concorde com o acordo!

Beijosssss e um excelente fim-de-semana

Ka disse...

knoppix,

Até me considero multifacetada mas há dias em que não dá para tudo!!! (risota)

Obrigada pelo torrão (ai os torrões são a minha perdição, então os de amêndoa e ovos....credo!)

Beijossss guapo e mil obrigada pelas rosas

Anónimo disse...

Pois, pois, mas o Vasco sem Graça Moura, é um bocado pró falso, porque abrupto nao passa a abruto porque o p é pronunciado. Esta juventude nao sabe o que é um acordo!!! Nao sabem por exemplo que no Brasil escreve-se mini-saia e com o acordo vão escrever como nós: minissaia. Acordo não é sinónimo de imposição

Anónimo disse...

Olhe Ka, voc� cometeu um erro ortografico...escreveu neste post "diccion�rio", o que est� errado, � sim "dicion�rio"...a mim parece que aqui em Poertugal h� ecxesso de c e p mudos, o que nos leva a exagerar ainda mais,e a cometer estes erros, comigo j� acontecei igual. N�o se esquece que h� menos de 100 anos escrevia-se dictado ou vict�ria e sci�ncia e pae ( e nao pai); uma lingua viva pode sofrer algumas altera�es.
Paulo