Passavam pelo ar aves repentinas,
O cheiro da terra era fundo e amargo,
E ao longe as cavalgadas do mar largo
Sacudiam na areias as suas crinas.
Era o céu azul, o campo verde, a terra escura,
Era a carne das árvores elásticas e dura,
Eram as gotas de sangue da resina
E as folhas em que a luz se descombina.
Eram os caminhos num ir lento,
Eram as mãos profundas do vento
Era o livre e luminoso chamamento
Da asa dos espaços fugitiva.
Eram os pinheirais onde o céu poisa,
Era o peso e era a cor de cada coisa,
A sua quietude, secretamente viva,
E a sua exaltação afirmativa.
Era a verdade e a força do mar largo,
Cuja voz, quando se quebra, sobe,
Era o regresso sem fim e a claridade
Das praias onde a direito o vento corre.
Sophia de Mello Breyner
Porque... há já muito tempo que não punha aqui um poema dela!
08/01/2009
Paisagem
Posted by Ka at 1/08/2009
Labels: poesia, Sophia Mello Breyner Andersen
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4 comentários:
"Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não."
Inegualável!
E como eu gosto de imagens e sentimentos nas 'coisas' inanimadas.
Inês,
Ela é fantástica, ou não fosse a minha poetisa favorita :)
Beijos
Patti,
Este poema lido há pouco tempo e gostei imenso :)
beijos
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