16/04/2007

Consciência Comum...ou Falta dela

Julgo que a consciência comum é ainda um mistério para os portugueses.
A maior parte dos portugueses está de tal forma embrenhado na sua vida, nas suas desgraças ou alegrias, que nem sequer se lembra, ou melhor nunca lhe foi ensinado sequer...

Isto assusta-me pois significa que às gerações futuras também essa consciência não está a ser passada... é um problema cultural! E como sabemos os problemas quando são culturais, são necessárias décadas para serem resolvidos pois é preciso mudar mentalidades. Se fosse conjuntural, seria mais fácil, mas não é!

Devem estar a perguntar-se porque me lembrei de escrever sobre isto. É simples, no dia-a-dia deparo-me com esta falta de consciência e fico cada vez mais irritada. Dou-vos alguns pequenos exemplos:

- Na zona onde vivo existem jardins que são para uso de todos. E também existem umas pequenas estruturas que têm sacos para que o dono que vai passear o seu cão faça o favor de apanhar o "presente" que o seu animal fez. E o que acontece? A maior parte das pessoas nem sequer se dá ao trabalho de apanhar os ditos presentes..acham simplesmente normal que todos tenhamos um relvado decorado desta forma. Mas há mais... também temos o caso de uma senhora que esvaziava rápidamente o depositário dos ditos sacos!!! Quando a interpelei acerca da necessidade de levar 20 ou mais saquinhos disse-me que era para a semana... imaginem!!!
-Infelizmente é normal, ir de carro e observar como as pessoas atiram alegremente lixo para o chão, quer dos seus carros, quer indo a pé. Chegando no outro dia ao ponto de ver um pai a dizer ao filho "deita fora que isso não presta" e sacudiu-lhe o papel da mão! O mais grave é que se tentamos dizer alguma coisa respondem que não temos nada a ver com o assunto e de seguida levamos com um chorrilho de insultos (já me aconteceu diversas vezes)...Ninguém quer saber que a rua é de todos e que a devemos preservar como tal. O pensamento destas pessoas é tão distorcido quanto isto: acham que têm direito a deitar lixo para o chão!
-Como tenho um filho pequeno, tento, dentro do possível dar passeios com ele ao fim-de-semana. No entanto de cada vez que consideramos a hiopótese de ir por exemplo ao parque da cidade, vêm-nos á memória o comportamento das pessoas e ficamos quase sem vontade de ir...mas por ele vamos. Não há a mínima consciência que estar ali várias pessoas a disfrutar do mesmo espaço. Temos as famílias ruidosas (não peço que estejam calados, claro que não é isso), sem o mínimo cuidado e atenção para o facto de estarem ali pessoas que até querem ouvir o som do vento nas árvores, o piar dos passarinhos...enfim a natureza. Em vez disso temos de apanhar com uns grunhos cujas criancinhas saltam quase para cima das nossas...num parque grande e arejado como é o nosso, como se lhes faltasse sítios onde brincar, correr... Dou este exemplo, quem cohece o parque da cidade sabe que existem diversos lagos onde andam os patos, cisnes e demais aves alegremente á espera que cheguem pessoas para lhes dar pão. Ontem lá escolhemos um sítio que nos parecia fora do trajecto, para podermos estar calmamente a apreciar os patos. Acreditam que vieram lgo duas famílias para aquele cantinho, quando havia o resto do lago (já para não falar nos outros) quase nos atropelavam!!
Pergunto-me porque razão há esta falta de consciência comum... ninguém quer saber que os espaços sejam comuns e que podemos perfeitamente disfrutar deles, respeitando o facto de os dividirmos com outras pessoas. Há pessoas que se acham no direito de fazerem as coisas como bem entendem, desrespeitando tudo e todos...
Até me arrepia pensar na trabalheira que vai dar, tentar transformar a sociedade portuguesa numa sociedade civilizada.

9 comentários:

Gi disse...

Compete a cada um de nós ir fazendo a sua parte para que se consiga criar uma consci~encia colectiva que cada vez está mais arredada. Apontar o que está mal, ir corrigindo, insurgirmo-nos ocntra os prevaricadores, mas não desistir nunca!

beijos

Ka disse...

Exactamente Gi!!!

Mas olha que é arriscado por vezes...

Beijinhos e resto de bom dia!

Liliana F. Verde disse...

Olá!

A "consciência comum" de que falas não existe, porque a consciência pessoal também não existe!!! (Lembremo-nos de que, no último referendo, a questão foi encarada como de "consciência"...)

Uma das coisas de que não gosto absolutamente nada (duvido que alguém goste!), é a de ouvir palavrões, pura poluição sonora! Cada vez mais jovens usam-nos sem qualquer pudor. Se chamamos a atenção, ainda somos mal vistos.

É, de facto, difícil alterar estes maus hábitos, fruto do ambiente familiar e social que envolve as camadas mais jovens. Como fazê-lo? Boa questão. Julgo que terá de ser uma "empresa" comum, de todos... o que é difícil, se a tal "consciência comum" não existe.

Pensamos, na verdade, muito no nosso umbigo.

Dou quatro exemplos:

1) Reciclar - quem recicla? quem não tem contentores perto de casa luta por isso ou está-se nas tintas? Ensinamos os mais velhos a fazê-lo? Lutamos para que quem não tem esse hábito o adquira?

2) Somos dadores, por exemplo, de sangue ou de medula óssea? (Vou escrever brevemente no meu "blog" sobre isto.)

3)Sempre que vamos a um estabelecimento público e nos deparamos com um mau serviço ou com alguma situação menos agradável, e que ponha em causa o bem comum, chamamos a atenção?

Por exemplo, as consultas nos postos médicos são uma miséria, ora ficamos horas à espera de sermos atendidos (caso seja para o mesmo dia), ou ficamos mais de um mês à espera. Queixamo-nos? Deixamos uma chamada de atenção no "Livro de Reclamações"? Ou simplesmente reivindicamos da boca para fora?

Eu tenho pensado nisto tudo. Já comecei a pensar no que vou escrever a propósito do tempo de espera para as consultas na minha terrinha. Há um ano atrás, quando as pessoas tinham de ir para o posto médico às 2h00m da manhã, deixei uma reclamação sobre o tal caso. Toda a gente refilava, mas ninguém fazia absolutamente nada. Passado um tempo, o atendimento melhorou (terá sido porque eu fiz a queixa?), ainda assim, temos de esperar 3 horas para ser atendidos, ou esperar mais de um mês para ter uma consulta. É justo? Não. Nem para mim, nem para os outros. A ver vamos em que vai dar...


4) Fazemos voluntariado? Uma simples hora semanal?

O ditado é velho, a nódoa cai no melhor pano. Não devemos, por isso, esquecer que o "mal" chama mais a atenção do que o "bem"... e que há muitos bem-feitores por aí a lutar pelo bem comum, com uma grande consciência comum.

Um grande beijinho,
Liliana

GP disse...

Estou inteiramente de acordo. É uma questão de mentalidade mas também tenho um reparo a fazer. Em 2005 estive em Oviedo onde todos se orgulhavam da cidade ter sido considerada a mais limpa da Europa. Mas, em todas as ruas e praças havia de 20 em 20 metros (talvez) um cinzeiro e papeleira de inox. No domingo que lá passei, houve um casamento da catedral. Demos uma volta de cerda de 20 minutos e, quando voltámos à praça, estavam os homens da Cãmara a limpar as pétalas e o arroz que ficou no chão. SE fosse cá tínhamos os Sindicatos à perna!
Um fumador, em Portugal, já é olhado de esguelha em toda a parte. Se quiser fumar um cigarro na rua, onde ainda não é proibido, não tem outro remédio senão deitar a "beata" para o chão. Não há um único cinzeiro nas ruas. Pelo menos nas do Porto.
Há que exigir civismo mas é preciso dar condições. Depois podemos atribuir a culpa exclusivamente à falta de civismo dos portugueses.
Graça Pimentel

Ka disse...

ahhh Liliana...

que bom sentir que alguém "fala" a nossa língua!!!

Pois é tens razão, também detesto palavrões e também costumo reclamar quando vejo alguma cisa errada pois acho que só assim se podem melhorar as coisas. Só não pus estes exemplos no post porque ficava um testamento que ninguém começaria a ler..hehe

E o meu objectivo é precisamente contrário: levar as pessoas a lerem e pensarem sobre estes assuntos.


Beijinho Liliana

Ka disse...

Graça,

Dou-te razão em parte pois embora já não o seja, já fui fumadora e o que fazia era apagar o cigarro mas ficava com a ponta e deitava no caixote de lixo seguinte. No entanto concordo que devem existir cinzeiros.

A ideia fundamental do meu texto é a irritação que tenho pelo não respeito que o espaço e as coisas são de todos. E que, por expl no caso do parque da cidade, todos temos condições para disfrutar calmamente dele mas há pessoas que nem sequer têm, ou não querem ter consciência que poderão estar a incomodar outras.

Dou-te um exemplo contrário: no verão do ano passado o nosso filho tinha cerca de 9 meses.Fomos jantar fora com ele e como tivemos de esperar um bom bocado por mesa quando finalmente nos sentamos ele já estava um bcado cansado e não tardou num berreiro incrível. Sabes o que fizemos? Foi simples (embora nos tenha em parte estragado a noite) pedimos ao empregado para pôr o jantar que tinha acabado de chegar à mesa, numa embalagem de take away e viemos embora pois consideramos que não podia estar um restaurante inteiro a pagar o cansaço do nosso filho.

Enfim ainda tems um longo caminho a percorrer!! (e é por isso que prefiro pagar e ir á casa de serralves mas ter um espaço mais calmo onde sinto que as pessoas respeitam a presença das outras :))

Ka disse...

Luis,

É isso mesmo...outras culturas e outra formas de estar!!!

Mas acredito que não devemos baixar os braços e ficarmo-nos a queixar sem fazer nada acerca do assunto!!

Beijinho

Anónimo disse...

São naturalmente questões de Cultura e de Educação. Individual e colectiva. Que tardam décadas e várias gerações até que os resultados sejam sólidos. Na melhor das hipóteses! Quando o Estado as promove de forma séria e empenhada. O que não tem sido, infelizmente, o caso.

Já no meu tempo de estudante, no Porto, mormente ao fim-de-semana, se viam hordas de 'turistas-de-garrafão' que invadiam a cidade, vindos em autocarro dos Concelhos vizinhos.

No Jardim da Cordoaria então, fazia-se a barba com o espelho pendurado nas paredes da Faculdade de Ciências e urinava-se no lago onde até já os pobres patos que por lá havia se recusavam a entrar.

Passados trinta anos, pouco ou nada mudou, lamentavelmente. E acho, sinceramente, que em termos de civilidade e respeito pelo 'outro', estamos ainda pior do que nesse tempo.

Um Xi da Porca

Ka disse...

Porca,

è verdade, infelizmente em alguns casos acho também que piorou.

Mas tenho a esperança que possa vir a melhorar!!! ... se não a perspectiva era demasiado negra!

Um xi da ka